John Paul Jones, o médio centro dos Led Zeppelin

O futebol é o desporto mais popular do mundo. Sendo Portugal um país futebolístico, vibramos todos com a nossa equipa nacional e quase todos com o clube do nosso coração (para evitar polémicas ,não vou referir o clube da cor do meu coração). Com isso em mente, recorro frequentemente a analogias futebolísticas para explicar algum ponto de vista. Hoje é um destes dias.

No desporto rei é frequente recordar ou evocar os ponta-de-lanças, que com os seus golos dão vitórias e títulos aos clubes, mas esquecemo-nos dos outros jogadores que sacrificam o seu talento em prol do colectivo, como por exemplo um trinco que recupera e faz jogar a equipa, sem nunca dar nas vistas. Vivem na sombra dos avançados.

Na música isso também acontece, não são raros os casos de talentos que são empurrados para uma existência na sombra de outros talentos, muitas vezes apenas por questões de gestão de egos, outras porque a indústria procura ícones e os artistas mais polémicos geram mais controvérsia e, consequentemente, atraem mais atenções o que favorece as vendas.

Robert Plant e Jimmy Page eram os marcadores de serviço dos Led Zeppelin. Também o talentoso e problemático John Bohnam atraía as atenções dos media e dos fãs. Qualquer um destes três é frequentemente listado como dos melhores vocalistas, guitarristas e bateristas da história do rock.

Frequentemente esquecido fica John Paul Jones, o homem dos sete instrumentos, o mais ecléctico membro dos Led Zeppelin. John Paul Jones era e é, um excelente executante quiçá, o melhor da banda do “Dirigível de Chumbo”. Um pouco à semelhança dos Beatles (outro dia…outro dia), os Led Zeppelintambém têm duas faces, visivelmente expostas no seu best of dividido em dois volumes, O Early Days e o Latter Days . Estes volumes bem se podiam chamar “Os dias de Jimmy Page” e os “dias de John Paul Jones” respectivamente, que ninguém ficaria chateado.

Com um aumento dos problemas pessoais de Page e alguns infortúnios de Plant, Paul Jones foi assumindo um papel cada vez maior na banda. Esta fase consegue ser muito mais rica e variada que a anterior. Podemos ouvir reggae (“D’Yer Mak’er”), funk (“the Crunge”) e um experimental prog rock oriented sound em “No quarter”. Este tema em particular, apesar do riff impressionante de Page no refrão, não teria sido possível sem a ambiência criada por Paul Jones nos sintetizadores e o seu solo de piano a contrastar com os solos de guitarra, trademark da banda. Tudo isto num só álbum, o Houses of the Holy.

O tema “Trampled under foot“, de Physical Graffiti, ajuda a vincar a crescente importância e contributo de Jones, e mesmo o popularíssimo “Kashmir“, que apesar de não ser da co-autoria de Jones, só foi possível pela inclusão de todos os elementos importados pelo baixista/teclista para os Led Zeppelin.

Em ‪In Through the Out Door‬, Jones apenas não assina o tema “Hot Dog” (Page/Plant). “All my love” e “South Bound Saurez” são duas criações suas que fogem mais uma vez ao arquétipo dos Led Zeppelin e “Fool in the Rain” tem o mais belo groove da banda, aquele saboroso half-time shuffle sublimemente tocado por Bonham foi inspiração para muitos bateristas nos anos 80 (conhecem “Rosanna” dos TOTO??).

Tal e qual um médio centro, Jonh Paul Jones contribuiu criativamente para a equipa, mas mais que isso, a sua versatilidade levou a que os restantes músicos também dessem mais de si a explorassem outras latitudes musicais, jogou e deu a jogar. Grandes craques mundiais, como Flea, John Deacon, Steve Harris, Geddy Lee, entre outros, foram influenciados por Jonh Paul Jones.

A sua carreira não foi só Led Zeppelin, antes disso era um conceituado músico de sessão tendo trabalhado com Rolling Stones, Cat Stevens, Rod Stewart, Jeff Beck e muitos outros. Compositor, produtor e arranjador, emprestou o seu nome a produções de REM, Heart, Ben E. King e…Paul Mccartney!! Além das colaborações nos albúns dos outros, ainda teve algum tempo para si. Lançou dois álbuns a solo (Zooma em 1999 e Thunderthief em 2001).

Atualmente é a estrela maior da constelação que é os Them Crooked Vultures, onde toca com dois músicos de elite (Dave Grohl e Josh Homme) que ainda jogavam nos infantis quando Paul Jones já distribuía jogo nos dois lados do Atlântico.

 

Texto original publicado em Meia de Rock

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